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    Digimon Tamers 1984

    O texto a seguir possui uma versão em português de Portugal de uma narração extremamente importante para o entendimento das histórias interligadas de todas as temporadas do Anime e principalmente de Digimon Tamers, onde tudo começou.
    Esse "mangá" narra como aconteceu o surgimento do primeiro digimon e sua materialização no mundo real, após os experimentos do Bando Selvagem ou Monster Makers narrados na história de Digimon Tamers.
    O Bando Selvagem foi o grupo que criou os digimons, inclusive os digi deuses e o processador Yggdrazil ou KingDrazil, mas os programadores do grupo não esperavam que os digimons iriam se tornar reais no mundo dos humanos nem que os próprios humanos conseguiriam mergulhar no mundo digital dos digimons.
    Esse grupo de programadores originaram o digimundo a partir do mundo virtual criado nos jogos da época inclusive o tamagaotche, então, criando na internet surgida um ambiente de interação dessas inteligências ou algoritmos que mais tarde se tornariam os digimons.
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    A fonte é de Rayana_Wolfer publicado originalmente em um fórum sobre digimon que pode ser acessado no link: http://digiplace.forumeiros.com/t3316-e-book-digimon-tamers-1984. O texto está na integra e em português de Portugal, no que pode conter erros de gramática e ortografia.
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    Estava-se apenas o começo de Outubro, mas o ar estava tão frio que parecia que já estavam em pleno Inverno. Ela, apesar de ter nascido e de ter sido criada na baía, ainda não se tinha conseguido habituar ao clima de Palo Alto.

    Enquanto empurrava o carrinho de compras pelo parque do centro comercial, em direcção ao carro, lembrou-se que se tinha esquecido de comprar os suplementos que o colega de quarto dela, o Jackie, lhe tinha pedido. Querendo despachar-se para chegar ao carro e fugir do vento, parou no meio do parque de estacionamento sem saber muito bem o que fazer.

    Nesse instante, uma velha carripana de aspecto muito usado parou à frente dela com um estoiro de fadiga.

    - Ei, você é a Daisy, não é?

    Um jovem japonês, ou talvez chinês, sorriu-lhe afavelmente.

    - Não me chame isso. Nem sequer o conheço; não sei porque deveria deixá-lo usar comigo uma alcunha que nem gosto.

    - Oh, desculpe-me. Sou o Zhenyu Lee do departamento de investigações McCoy. Pode-me chamar-me Tao, toda a gente chama.

    McCoy? O eterno rebento em flôr McCoy?

    Ficou surpreendida. Este homem asiático sem escrúpulos parecia estreitamente ligado à vaga imagem que ela possuía do professor adjunto McCoy.

    - Está bem, Tao. E presumo que você queira alguma coisa de mim?

    - Claro. Foi por isso que andei à sua procura.

    - À minha procura?

    A razão pela qual Tao a procurava era para lhe pedir que se juntasse a eles, ao departamento de investigações do professor Rob McCoy.

    Tudo o que ela conhecia sobre o professor McCoy era o rumor de que, quando ainda era estudante da escola secundária, tinha passado tempo com o ídolo dele, John C. Lilly, e com os golfinhos, no Havai. Por sinal, a investigação dele era completamente fora da área de estudo dela.

    A única razão pela qual ela concordou em falar com eles foi porque se sentiu atraída pela atitude sem escrúpulos de Tao. Mas rapidamente descobriu que ele já era casado com uma mulher japonesa. O departamento de investigação era um edifício com a forma de um “L”, não muito longe da área da Universidade. Foi para onde se dirigiu na tarde seguinte.

    Ao que parecia, o edifício ainda estava no meio do seu processo de conversão em departamento de investigação, e nenhum dos computadores centrais ou cabos estavam instalados. Caixas e documentos diversos ocupavam cada centímetro de espaço que havia no chão.

    - Daisy! Você veio!

    Um sorriso gentil brotou no rosto de Tao assim que a viu. Havia um par de outros estudantes também. Havia o Babel, um sujeito de pele escura, que era caloiro na universidade, e a Curly, uma linda mulher indiana que marcava presença. Aparentemente, havia um estudante japonês que também estava envolvido no projecto.

    Todos tinham uma área de especialização diferente. Babel era um Teórico de Física. Curly era de Teoria Quântica, e Tao era de Comunicação e Linguagem. E quanto à própria Daisy, ela andava estudar Programação e Robótica. A alcunha dela vinha da canção do Hal 9000, aquela muito famosa da S.I.A., cantada segundos antes de ser desactivado.

    A única coisa que eles tinham em comum era que nenhuma das disciplinas deles era mainstream. Portanto, por que demónios tinham sido reunidos aqui, no departamento do McCoy? Tinha a curiosidade no alto.

    Quando, finalmente, o professor McCoy chegou, ele não se parecia nada como ela imaginara. Era verdade que ele usava muitos termos hippie dos anos 70, mas não usava camisa comprida nem colorida, nem lhe fez nenhum sinal de paz com os dedos quando ela se apresentou.

    Ao falar com ele, descobriu que apesar de ter estudado sob tutela do Lilly, tinha estado aqui na costa oeste, e não no Havai, e que o próprio McCoy nunca tinha tocado num golfinho. Eles simplesmente chamavam-lhe “Golfinho”.

    - Estas alcunhas fazem parecer que pertencemos a algum gangue ou coisa parecida.

    - Se calhar... mas vamos ser a equipa mais fixe do Palo Alto. – disse o fulano de pele escura, o Babel, enquanto se espreguiçava.

    - A fazer o quê?

    - Estamos a tentar construir um novo mundo.

    - Hã...?

    Curly simplesmente olhou para ela em silêncio, com o lindo rabo-de-cavalo, preto e comprido, a balançar suavemente.

    Um novo mundo? Quereria ela dizer algum tipo de simulação?

    McCoy, o Golfinho, foi quem respondeu.

    Sim, eles estavam a fazer simulações para construir mundos, mas o que tornava este projecto único era que este novo mundo seria em rede. E as “criaturas” a quem estavam a tentar dar vida eram inteiramente originais.

    Criar vida com inteligência artificial. A primeira sociedade de I.A. remontaria a 1987. A equipa do McCoy formou-se três anos antes disso.

    Daisy achou a outra pessoa alguém difícil com quem lidar, ao contrário de Tao. O cabelo caía-lhe até à cintura e raramente mostrava emoções. Era taciturno e às vezes falava por enigmas com ele mesmo.

    A única coisa que lhe interessava era como monitorar o mundo da rede a partir do mundo exterior. Ela não sabia quem lhe tinha dado a alcunha, mas ele chamava-se Shibumi. Pensou vagamente que devia significar alguma coisa relacionada com o “Zen”.

    Não levou muito tempo a criar amizade com os outros, e rapidamente ela percebeu o que precisava.

    - Criar vida pode não ser fácil. Apesar do verdadeiro Deus não ter tido lá grande dificuldade, creio.

    A jovem equipa, “os criadores de monstros”, como se chamavam a si mesmos, debatiam os seus progressos e objectivos ao sabor da comida chinesa.

    Tinham uma vaga imagem de criaturas digitais, mas não conseguiam desvendar como seria autêntica vida original.

    Shibumi estava sentado um pouco à parte dos restantes, a mastigar massa de macarrão frita, quando disse subitamente – Pensei em todo o tipo de monstros, quando era puto.

    - Monstros? Como o Godzilla e coisas do tipo?

    - Não, bom, isso também. Esse tipo de coisas sempre passou na televisão.

    - Acho que os miúdos são bons nisso.

    O Golfinho, que tinha estado a ouvir calado, levantou-se de repente e foi ao telefone.

    - Sou eu. O Keith está em casa? Ah, ainda está na escola. Claro. Sim, quando chegar a casa... Não, vou para casa agora.

    - O que é que te deu, Golfinho?

    Com um sorriso embaraçado, o Golfinho agarrou na foto em cima da secretária e mostrou-a aos outros. Bastava olhar para Keith, era óbvio que era filho do Golfinho.

    - O que acham de pedir ao Keith que nos arranje alguns designs?

    - É boa ideia. Um miúdo não fica a pensar em como é que deve ser vida artificial, e pode arranjar alguma coisa que seja nova e original.

    - Monstros... é mesmo isso que estamos a tentar criar.


    E foi assim que as formas de vida artificiais que os criadores de monstros estavam a tentar criar se chamaram digimon, monstros digitais.

    O filho do Golfinho, de dez anos, desenhou alegremente digimon atrás de digimon. Era um jogador entusiasta e agrupou os digimons de acordo com os seus atributos, até mesmo designando níveis numéricos para as suas habilidades e força de vida.

    Considerando a vida artificial anterior, como o autómato celular de Von Neumann e Jogo da Vida de Conway que advieram dos jogos de computador, Golfinho pensou que era perfeitamente natural que os digimons pudessem ter características dos personagens de jogos de vídeo.

    Ao observar os desenhos de Keith, Tao apercebeu-se que eles podiam ser divididos na pré e pós-adolescência. Keith provavelmente não fazia intenções disso, mas Tao achou que os digimons podiam herdar características das suas formas de anteriores à medida de cresciam.

    Ele instituiu que o termo shinka (evolução) era essencial para estes digimons, estas formas de vida artificial que estavam a tentar criar, e dedicou-se à criação de um algoritmo.

    - Mas se incluirmos os elementos necessários para a evolução, isso não fica demasiado pré-determinado?

    - Sim, Tao. Tudo é causa e efeito.
    - Concordo que deve haver um fundamento. Mas não acho que a evolução de um digimon tenha de ser só enfrentar um oponente e absorver os dados dele, para ficar maior.
    - Tudo o que podemos fazer é dar-lhes forma e acções básicas. Não sei se isto pode ser chamado de “vida”, mas precisa de mais alguma coisa, apenas não sei o quê.
    Shibumi, que tinha estado a trabalhar em silêncio num dos computadores, de costas para os outros, disse sem se voltar – “Enteléquia” .
    Todos olharam para ele espantados.
    - O que é isso?
    - Acho que tem alguma coisa a ver com Aristóteles. O que queres dizer com isso, Shibumi?
    - Quero dizer que estamos a falar de forças exteriores que querem dar vida a alguma coisa inanimada. Não há necessidade de incluir isso nos digimons, à partida. Temos muito disso neste mundo.
    Shibumi ficou calado.
    O resto do grupo regressou à sua pesquisa.
    Enquanto Daisy dava dicas a Tao, ela continuou a trabalhar no seu próprio projecto, que consistia em conceber uma interface que mediasse o mundo real e a rede digital.
    Os digimons que existiam no ideal dela eram qualquer coisa como o dynabook proposto por Alan Key  (um computador portátil, na terminologia actual), alguma coisa completamente wireless, que pudesse aceder à rede e ir buscar informação em qualquer altura. A imagem original do dynabook de Kay incluía crianças pequenas a utilizá-los num campo.
    Era para ser uma coisa tão simples que até uma criança pudesse ser capaz de usar. Mas Daisy pensou naquilo mais como uma representação do quão adequado à inocência de uma criança seria o território da rede, ainda por descobrir.
    Chamou à sua Interface rede “Ark”. Ela queria alguma coisa que passasse a sensação de se estar dentro da própria rede, em vez de observá-la a partir do exterior.
    Finalmente, o Golfinho criou o núcleo do programa digimon, o digicore, e nasceram digimons primitivos no servidor dos criadores de monstros.
    Ainda nessa altura, no verão de 1985, um dos terminais no laboratório do Golfinho foi instalado para mostrar o mundo dos digimons. Ao longo do tempo, as experiências dos criadores de monstros começaram a atrair as atenções de estudantes e faculdades semelhantes, e agora começavam a aparecer no laboratório para ver o que estava a acontecer.
    Os digimons ainda não passavam de código representado por pixéis. Mas já eram autónomos, mostravam desejo de viver, e corajosamente lutavam contra aqueles que eram maiores do que eles.
    Foi aqui que os tipos diferentes receberam nomes. As regras eram simples: uma palavra que devia descrever cada um era encurtada e depois adicionava-se no final “mon”, de “monstro”. Agumon, Devimon, Leomon, etc. Claro que foi Keith quem teve a ideia.
    A casa de Golfinho ficava a cerca de dois quarteirões do departamento de investigação, mas ele instalou cabos desde o laboratório até ao terminal da sua casa (claro que isto era ilegal), para poder monitorar os digimons a partir dali. Claro, isto era uma ameaça para a sua esposa e também para o Keith.
    A razão porque Keith se apercebeu daquilo antes dos criadores de monstros, não foi exactamente por negligência do grupo. Estavam todos muito concentrados no aperfeiçoamento do sistema e a testar novos algoritmos para depois observar os digimons. Mas era mais do que isso: era simplesmente Keith quem prestava mais atenção.
    - Papá, está a acontecer alguma coisa esquisita – disse Keith no momento que o Golfinho chegou à porta, chegando a casa depois de sair do laboratório.
    - Como assim, esquisita?
    - Olha.
    Golfinho observou o monitor, que mostrava o mundo digimon.
    Garurumon e Kuwagamon e os outros digimons estavam ocupados a lutar uns contra os outros, mas Golfinho apercebeu-se de um digimon desconhecido no canto do ecrã, que parecia estar a olhar directamente para ele.
    - Que digimon é este?
    - Não sei...
    Não era de admirar que Keith estivesse confuso. Apesar de ter sido ele mesmo a criar todos os designs dos digimons, estes tinham sido transformados em matriciais e depois convertidos em código. Alguns eram fáceis de identificar, mas com outros era impossível dizer como tinham sido na sua forma original.
    - Hnm, bom, existem muitos digimons diferentes. Não admira que alguns tenham comportamentos diferentes dos outros. É isso que queremos que aconteça.
    - Anda, vamos jantar.
    Sem despender nenhum outro pensamento acerca do digimon que não se mexia, sobre este digimon que parecia estar a olhar directamente para o mundo real, Golfinho dirigiu-se à cozinha com Keith.
    Depois de Golfinho, Curly, Babel e Tao voltarem para suas casas, Daisy ficou no laboratório, a escrever o programa Ark mediante tentativa e erro.
    Um dos monitores em cima da sua secretária tinha um fluxograma do programa Ark e outro mostrava o mundo digimon. Aquele curioso digimon que parecia estar a olhar directamente para o mundo real aparecia também no ecrã dela. Ao dar-se conta dele, ela sorriu e acenou.
    Era quase hora de voltar à sua própria investigação. Tinha recebido um convite de um jovem hippie para montar uma companhia de computadores. Tinham-na convidado para se juntar à companhia depois da graduação, mas ela ainda tinha de tirar o doutoramento antes disso. Sobrava-lhe um tempo limitado para gastar com os digimons.
    Por isso, apressou-se a completar o Ark como forma de comunicação com o mundo digimon. Tao já tinha concluído os algoritmos de evolução e estava a ajudá-la, mas ainda não tinham encontrado a ideia-chave que permitiria a comunicação entre os dois mundos.
    Faltavam poucos anos para o século XXI.
    O século XXI, que tinha parecido um futuro muito distante quando ela ainda era pequena; e o filme do qual tinha recebido a sua alcunha, tinham sido ambos no início do século XXI. O ano 2001 ocupava um lugar especial no coração de Daisy.
    Nesse ano, ela teria trinta anos de idade. Não conseguia nem imaginar-se a si mesma, nessa altura. Estaria casada? Teria filhos? Em que estaria a trabalhar então?
    Sentia entusiasmo e uma mescla de incerteza. Depois de algum tempo, apercebeu-se que tinha estado a sonhar acordada e que já passavam das dez horas da noite. Não tinha avisado o colega de quarto que ia chegar tarde.
    Alcançou o telefone, mas não havia linha.
    - Que estranho. O que é que se passa?
    Nenhum dos telefones do laboratório funcionava.
    Deu-se conta, de repente, da distância que separava o laboratório das restantes áreas da universidade, e do quão longe ela se encontrava dos digimons que se viam no ecrã. Suspirou e deixou-se cair na cadeira como se se deixasse dormir. Era como se Deus lhe dissesse que já era hora de se dar por satisfeita.
    Devia levantar-se, pegar nas chaves do carro, e ir embora.
    Mas precisamente nesse instante, um barulho preencheu o silêncio.
    - O-o quê?
    Era o som ruidoso de alguma coisa a raspar. Daisy olhou para a porta. Haveria alguém ali?
    Levantou-se silenciosamente da cadeira e andou lentamente em direcção à porta, de ouvido à escuta. Não conseguia ouvir mais do que o som do ventilador. Seria alguém a pregar-lhe uma partida? O Babel?
    Abriu a porta. Tudo o que conseguia ver era as luzes do parque de estacionamento. A brisa morna da noite brincou-lhe com o cabelo. Ficou ali de pé a olhar em volta, por alguns momentos, até sentir as faces esfriarem.
    Não era nada. Era hora de ir para casa. Com isto na cabeça, voltou-se e deu de caras com uma visão descomunal. Havia enormes marcas de arranhões do lado exterior da porta. Como se um enorme monstro tivesse raspado a porta com as suas garras. Precipitou-se imediatamente para dentro e trancou a porta.
    Tentado recuperar o fôlego, disse a si mesma que devia recuperar a calma.
    Não havia animal em Palo Alto que pudesse deixar marcas de garras como aquelas. Pelo menos, não que ela soubesse. Mas eram definitivamente marcas de garras. Sem pensar, foi para o centro da sala. Devia ter-se sentido demasiado vulnerável perto da parede.
    Tentou usar o telefone uma vez mais, mas ainda não funcionava. Mas a rede – a linha que conectava o servidor do laboratório à área da universidade – ainda funcionava.
    Daisy precipitou-se sobre o teclado. Digitou um e-mail e enviou-o a todos os endereços da universidade. Tinha de haver alguém que o lesse.
    Olhou subitamente para o monitor do lado.
    - Hã?
    Faltava alguma coisa. O digimon que tinha estado no canto inferior direito, aquele que parecia estar a olhar para ela, já não estava ali.
    Daisy abriu a janela para ter uma perspectiva macro e dar uma olhada ao mundo digimon. O mundo deles estava já a alastrar-se rapidamente pela rede.
    Não restavam dúvidas que em breve haveria uma explosão similar ao do período Câmbrico 
    Mas por enquanto ainda era impossível ver a totalidade do mundo digimon de uma vez só. E ela não conseguia ver o digimon desconhecido em lado nenhum. Observou a grelha do código, e deu-se conta de um ponto onde parecia estar a acumular-se uma grande quantidade de dados. Ela fez zoom nessa área. A área em forma de “L” parecia estranhamente familiar. Parecia tal e qual ao laboratório do Golfinho.
    - Que diabo...?
    Havia um ponto que representava uma forma de vida digital, dentro do espaço em forma de “L” – Isto sou eu?
    Sentia-se desnorteada. Sabia que tinha de descobrir o que estava a acontecer o mais rápido possível, mas não queria saber. A mente dela estava paralisada.
    A área para onde ela estava a olhar não era o espaço em forma de “L”, mas um espaço precisamente fora dele. A deambular por ali havia um ponto quase tão grande como o edifício. Ouviu um som que lhe pareceu o que um rosnar profundo vindo da garganta de um animal. Voltou-se para trás. Estava escuro como breu lá fora, através da janela. Não conseguia ver nada. Claro que não conseguia. Como era possível? Não podia ver uma coisa que não existia no mundo real!
    Mas foi quando o edifício começou a estalar e a oscilar. O animal estava a ir contra o telhado e a balançar o edifício. Daisy gritou e tapou os ouvidos. As luzes suspensas oscilaram violentamente. O teclado de Babel e resmas de papeis caíram da secretária para o chão.
    - Isto não pode estar a acontecer. Não foi isto que andei a investigar.
    - Não há como o mundo digital possa afectar o mundo real.
    - Estou só a imaginar coisas.
    Daisy empurrou o monitor que mostrava o mundo digimon para o meio do chão.
    Destruiu monitor atrás de monitor, depois abriu a porta do porão e precipitou-se escadas abaixo para desligar a energia do servidor. Silêncio. A sua respiração furiosa ressoava pela sala. E de repente, ouviu mais um barulho violento na porta.
    Cobriu as orelhas e pôs-se de posição fetal no chão, fechando os olhos com força. Disse a si mesma que aquilo era só um sonho, que estava a imaginar tudo. Quando alguma coisa lhe agarrou o braço, ela soltou um grande grito e puxou-o para se libertar.
    - Acalma-te! Sou eu!
    - Shibumi...
    Ele parecia sempre tão distante, e no entanto, olhava agora fixamente para ela.
    Os guardas da universidade atribuíram a origem dos acontecimentos dessa noite a um furacão, mas os criadores de monstros não acreditavam nisso.
    Os digimons continuaram a evoluir, mas, nessa noite, alguns dos digimons desapareceram do servidor. Os criadores de monstros recearam que um worm pudesse danificar a rede, e por essa razão, de forma alguma podiam ir atrás dos digimons desaparecidos.
    Continuaram a sua experiência, mas em 1986, o fundo dos patrocinadores do Japão chegou ao fim. O Golfinho tentou financiar o projecto com o seu próprio dinheiro, mas era simplesmente impossível e no fim o projecto acabou sendo dissolvido. Uma pequena festa de despedida tomou lugar no laboratório já completamente vazio.
    - Oh, por onde anda o Shibumi?
    Aparentemente, o japonês de aura distante já tinha regressado ao país dele. Daisy deu uma olhada à sua secretária, onde tinha estado sempre sentado de costas voltadas para eles, enquanto trabalhava silenciosamente no sistema da rede.
    Na secretária dele havia apenas uma disquete de cinco centímetros com uma etiqueta azul.
    Seis meses mais tarde, enquanto estava a fazer uma investigação de GUI para o sistema de computadores de uma companhia, recebeu um e-mail endereçado por uma alcunha familiar.
    Era do Tao. Estava agora a viver no Japão com a mulher japonesa com quem estava casado. Tinha-se casado quando ainda era estudante, e estava agora empregado numa firma de computadores rival.
    “Já passou algum tempo, desde a última vez que me chamaram de Daisy” – os lábios dela torceram-se num sorriso enquanto lia o e-mail.
    «Como vais? Lembras-te da disquete azul que o Shibumi deixou? Fui ver imediatamente o que era, mas não tinha a certeza se devia ou não contar a alguém. Mas por causa do que te aconteceu, acho que tens o direito de saber.»
    Daisy hesitou em continuar a leitura. Shibumi tinha-a salvo naquela noite, tinha sido o seu samurai. O que é que teria feito?
    «Parece que o Shibumi não se limitou a fazer a investigação dele. Ele também andou a adicionar alguns algoritmos ao meu programa de evolução, enteléquia.»
    Evolução?
    Agora que pensava nisso, ele tinha mencionado qualquer coisa sobre o facto da chave para a evolução dos digimons estar no mundo real. Tao terminou dizendo que não tinha notícias do Shibumi há seis meses.
    Daisy disse a si mesma que os digimons já não tinham nada a ver com ela.
    Mas os digimons espalharam-se pelo mundo de uma forma que ela jamais podia esperar.
    Os dados dos digimons da rede tornaram-se domínio público.
    Depois, uma empresa japonesa fabricante de brinquedos usou-os nos seus jogos de bolso, e tornaram-se populares entre as crianças de todo o mundo.
    Um dia, enquanto andava às compras pelo centro comercial, passou por uma criança que brincava com um dos jogos de configuração oval, e que apesar de tudo, o programa a que ela se tinha dedicado, o Ark, estava um passo mais próximo de se tornar realidade.
    Mas ela nunca mais pensou nos digimons depois disso. Pelo menos, não até 2001.
    Seria realmente o fim?

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